quinta-feira, 24 de julho de 2008

Nós por nós mesmas

Nós por nós mesmas

6/9/2006 - Jurema Werneck - Ibase - Brasil

É muito comum nos discursos ativistas no Brasil, principalmente aqueles preocupados com as desigualdades de gênero (e raça, em alguns casos), a afirmação da invisibilidade da mulher negra para a sociedade. Especialmente no que diz respeito a sua ausência na mídia – sendo a televisão o exemplo mais gritante, apesar de se poder afirmar que essa é uma prática corriqueira na produção de imagens nos diferentes veículos de comunicação do país –, povoada de mulheres brancas, preferencialmente louras.

Por trás dessas afirmativas está o repúdio ao etnocentrismo exacerbado dos(as) produtores(as) das imagens, bem como de seus veículos, que exclui a diversidade racial brasileira.

Apóio e creio que todas e todos devemos recusar estratégias racistas como essas.

No entanto, se olharmos mais detalhadamente, veremos que a mulher negra não está totalmente ausente da mídia. Ao contrário, está presente, mas em situações específicas.

Televisões, jornais, revistas, panfletos, manuais, cartilhas, fotografias, filmes, e outros, sejam materiais jornalísticos, de opinião ou de arte, trazem imagens de mulheres negras.

O problema é que essa presença está delimitada a temas específicos, que em nada contrariam o “senso comum” de uma parcela da sociedade. Senso comum que, diga-se de passagem, é povoado de preconceitos e de ideologias em disputa. São pontos de vista estereotipados, ancorados no racismo, no sexismo, nos preconceitos vinculados às diferenças de classe social, que se desenvolvem na mídia com a mesma intensidade com que estão presentes nas estruturas e relações sociais.

Sob esse prisma, somos retratadas por uma profusão de imagens que, geralmente, nos encaixam em papéis específicos. Um deles é o de mulheres descabeladas, chorosas, mal-vestidas. As carentes (quer dizer, pobres) que tornam os projetos sociais de “dar o peixe e ensinar a pescar” necessários e urgentes. Programas que devem estar rigorosamente atrelados às chamadas condicionalidades, que algumas pessoas acreditam ser a forma de obrigar tais mulheres – vistas como incompetentes e incapazes, talvez preguiçosas –, a acessar políticas públicas de saúde e educação e, quem sabe, algum projeto de “qualificação profissional”, cursos que invariavelmente oferecem reciclagem, artesanato, cabeleireiro, manicure e costura. Nem comentarei aqui as potencialidades de tais cursos alterarem efetivamente a condição de vida dessas mulheres. Chamo apenas a atenção para o fato de que eles fazem parte de uma receita pouco criativa, que se repete nas diferentes ONGs, políticas públicas, projetos, programas.

No segundo exemplo, somos retratadas como as “gostosonas”, de sexualidade incontrolável, transbordante e pouco “familiar”, à disposição para que os varões da “melhor” sociedade possam afirmar sua virilidade. No carnaval, tais imagens chegam ao exagero – ainda que, nos últimos anos, as televisões tinham optado por substituir as negras pelas louras atrizes ou “modelos”.

Um terceiro exemplo requer imagens de empregadas domésticas, muitas vezes idosas, descritas por depoentes brancos como doces, ternas. Trata-se de uma espécie de atualização nostálgica das imagens da Mãe Preta, da Bá dos tempos escravocratas. Sem opinião e sem vida além da vida dos brancos, dos senhores, “como se fossem da família”.

Outras imagens virão à nossa cabeça. A maior parte delas, um desdobramento das acima citadas, às vezes fundindo características, outras vezes atualizando-as. Como a imagem da negra grávida ou mãe de vários filhos. Nesta imagem/estereótipo verifica-se uma fusão da negra de sexualidade irrefreada com a da mãe carente-incompetente. Imagem que vai ser completada com o estigma de mães de meninos(as) bandidos(as), para quem a política pública mais necessária é o controle da natalidade. Ou, para os filhos, a cadeia em regime disciplinar diferenciado.

Tais imagens estão e sempre estiveram à disposição da sociedade, formando opiniões, semeando impressões. Propondo identidades que não entrem em contradição com o racismo e os seus privilegiados. No entanto, elas confrontam diretamente o que somos, o que fomos, o que aspiramos ser. São poderosas e, de certo modo, onipresentes.

Porém, cotidianamente, nós, mulheres negras, estamos envolvidas no trabalho de elaborar outras imagens de nós mesmas, outras identidades que recoloquem a dimensão do que somos e que confrontem e recusem os estigmas. Isso tem contido o poder de aniquilamento dessas imagens, em certa medida neutralizando seus impactos sobre nós.

Essa elaboração tem sido feita há anos, décadas, séculos. E tem se desenvolvido à vista de toda a sociedade. Mas somente nós mesmas temos tido olhos para ver e ouvidos para ouvir as mensagens que nos tem sido passadas baseadas na tradição afrobrasileira e ancoradas na vivência corporal e na transmissão oral de preceitos, pressupostos, princípios. Elas estão presentes em todos os momentos da nossa vida, nos diferentes ambientes, oferecendo modelos para a produção de identidades de mulher negra que confrontam e contrariam os estereótipos.

Podemos identificar, nas mulheres negras próximas a nós, exemplos suficientes para desmentir os estereótipos. Por meio de gestos, frases, formas de olhar, são elas que nos mostram a importância do que somos, as possibilidades que temos, nossos poderes. Sem esconder as crueldades e contradições da sociedade baseada no racismo e na super-exploração de uns em prol de privilégios de poucos.

Mas não apenas as mães, avós, tias, vizinhas têm esse papel. Entre nós, como entre toda a população negra na diáspora africana, a música tem sido um espaço privilegiado de resistência, de produção cultural e identitária. De luta. Não é coincidência, portanto, verificarmos que é na música popular que encontramos o maior número de mulheres negras, cuja expressão pública vai muito além de sua comunidade. Cito apenas alguns nomes: Alaíde Costa, Alcione, Ângela Maria, Aparecida, Araci de Almeida, Áurea Martins, Carmem Costa, Clementina de Jesus, Dalva de Oliveira, D. Ivone Lara, D. Selma do Coco, Daúde, Dolores Duran, Eliane Faria, Elizeth Cardoso, Elza Soares, Evinha, Helena de Lima, Jovelina Pérola Negra, Lady Zu,, Leci Brandão, Leny Andrade, Lia de Itamaracá, Luciana Melo, Margareth Menezes, Martnália, Nêga Gisa, Paula Lima. Pepê e Nenen, Sandra de Sá, Surica, Tati Quebra Barraco, Tereza Cristina, Vanessa Jackson, Virgínia Rodrigues, Zezé Motta. Grupos musicais como As Gatas, Trio Ternura e Trio Esperança (ambos formados por duas mulheres e um homem), Fat Family (grupo de quatro mulheres e dois homens). Além de Chiquinha Gonzaga.

São imagens, vozes, performances de mulheres que se parecem conosco, com o que queremos ser, com o que devemos ser. Ativas, lutadoras, sensuais, integradas à tradição e à comunidade e sua cultura. Geniais, belas, intensas. Guerreiras. Como nós.

Fonte: PPCOR

quarta-feira, 23 de julho de 2008

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Evento sobre a maioridade do Eca















Foi muito emocionante o evento realizado por mim e por um grupo de alunos do Curso de Jornalismo e Política Públicas Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no último dia 14 para comemorar os 18 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente. Em breve vocês poderão ver as fotos e assistir aos vídeos.

Vale apena assistir!

terça-feira, 8 de julho de 2008

Maioridade do ECA é avaliada e tem exercício de construção de futuro no encontro ECA 18 Anos, do Curso de Jornalismo de Políticas Públicas da UFRJ/AND

Celebração com avaliação crítica, exibição de raro filme de 1989 sobre os primórdios do ECA, música e construção de cenários onde vigorem cada vez mais os direitos da Infância e da Adolescência: este é o evento ECA 18 ANOS que acontece segunda-feira, dia 14, no Campus UFRJ da Praia Vermelha.

ECA 18 ANOS é uma realização de um grupo de profissionais que concluíram o Curso de Extensão e Disciplina Jornalismo de Políticas Públicas Sociais-JPPS, criado pelo Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência-NETCCON.ECO.UFRJ, sob a coordenação do professor Evandro Vieira Ouriques, e pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância-ANDI.

Estarão presentes especialistas como Deodato Rivera, filósofo e cientista político; Vânia Farias, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente-CMDCA; Ana Carolina Loureiro, Conselheira Tutelar; George Araújo, projetista nas áreas de Educação e Cultura e produtor audiovisual; Rui Marroig, do Forum Rio-DCA; Marisa Santana, gestora do Comitê para Democratização da Informática-CDI e adolescentes do CRIAM Santa Cruz e do Ballet de Santa Teresa, além de Luiz Fernando Romão, do Projeto Legal, e Luiz Fernando Dudu Azevedo, educomunicador e documentarista.

Na abertura do encontro serão exibidos trechos do histórico documentário sobre a elaboração do ECA realizado há 19 anos. O vídeo é parte do copião feito em 1989 por Dudu Azevedo, a pedido da Fundação Odebrecht. Nele estão, entre outros, o cientista político Deodato Rivera e o pedagogo e ganhador do Prêmio Nacional dos Direitos Humanos (1998) Antonio Carlos Gomes da Costa, além de depoimentos de adolescentes. Trata-se de raríssimo testemunho do processo de elaboração do Estatuto, luta presente até os dias de hoje.

No intervalo entre os painéis haverá a apresentação musical dos meninos e meninas do Quinteto Villa-Lobinhos. O encontro se encerra com a Oficina de Construção de Cenários do ECA conduzida pelo Professor Evandro Vieira Ouriques, que é também o coordenador do curso de Jornalismo de Políticas Públicas Sociais-JPPS.

PROGRAMAÇÃO:

9:00 - 9:10 - Abertura:
. Evandro Vieira Ouriques - Coordenador do Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência-NETCCON.ECO.UFRJ
.George Araújo - projetista nas áreas de Educação e Cultura e Produtor Audiovisual

9:10 - 9:20 - Exibição de trechos do documentário de Dudu Azevedo e Fundação Odebrecht, feito em 1989 sobre a elaboração do ECA.

9:20 - 10:20 - PAINEL I
.Vânia Farias- Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente-CMDCA e do Ballet de Santa Teresa
. Deodato Rivera - filósofo, cientista político, participou da elaboração do ECA.
. Ana Carolina Loureiro, Conselheira Tutelar do Município do Rio de Janeiro.
. Mediação: Rui Marroig

10:20 - 10:40 - Apresentação do Quinteto Villa-Lobinhos

10:40 - 11:00 - Recreio com Merenda

11:00 - 12:00 - PAINEL II
. Marisa Santana, Gestora do Comitê para Democratização da Informática-CDI, com depoimentos de adolescentes do Criam Santa Cruz.
. Laís Santos de Oliveira, adolescente integrante do Ballet de Santa Teresa.
. Luiz Fernando Romão, representante do Projeto Legal, e beneficiários do Projeto.
Mediação: Luiz Fernando Dudu Azevedo

12:00 - 13:30 - OFICINA DE CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS ECA
Conduzida pelo professor Evandro Vieira Ouriques, com metodologia participativa e com o objetivo de ajudar a consolidar os temas abordados e as redes presentes, de maneira a contribuir para o aprofundamento do vigor de Cenários ECA.

SERVIÇO
Evento: ECA 18 ANOS
Data: 14/07/08
Horário: 09:00 às 13:30h
Local: Auditório da CPM-Escola de Comunicação.UFRJ
UFRJ da Praia Vermelha

Av. Pasteur, 250-Urca-Rio de Janeiro (esquina com Av. Venceslau Brás, entrada pelo portão da UFRJ do lado esquerdo do Hospital Pinel, caminhe 50 metros é o primeiro prédio branco de dois andares à sua direita)

Contato:
Rui Marroig - (21) 9124-9777 - marroig@attglobal.net
Teresa Fazolo - (21) 2552.1495 - 8207.8040 - tc.fazolo@nextcon.com