Recentemente mais um profissional foi morto por tentar realizar o seu trabalho. Amaury Ribeiro júnior foi baleado ao fazer uma matéria sobre o tráfico de drogas em Brasilia.
Fiz uma matéria sobre o que mudou depois do assassinato do jornlista Tim Lopes que também foi morto quando fazia uma reportagem sobre o tráfico. Infelizmente muitas coisas devem ser mudadas, mas algumas já mudaram. é o que vocês podem conferir na matéria abaixo
Jornalismo: o que mudou nesses cinco anos
O jornalista Tim Lopes foi assassinado, a Folha Universitária, em uma reportagem feita pelo então aluno Murilo Ribeiro, falou sobre o duro golpe que o jornalismo investigativo sofreu. Jornalistas, como Ivson Alves, falaram sobre a dificuldade de se saber os limites que devem nortear a prática profissional. Murilo, hoje, âncora do programa Salto para o Futuro, na TVE, diz que algumas coisas mudaram. “Com o assassinato do Tim, os veículos passaram a discutir estratégias de segurança e os riscos envolvidos no trabalho dos profissionais da imprensa, passaram a ser encarados de uma forma mais séria e profissional”, avalia.Cinco anos depois, a Folha Universitária pergunta: O que mudou no jornalismo?Celso Augusto Sheröder, Secretário Geral da FENAJ(Federação Nacional dos Jornalistas), diz que com a morte do repórter, a questão da segurança tomou uma nova dimensão.“A segurança dos jornalistas deixa de ser uma preocupação apenas dos meios de comunicação e passa a ser da sociedade”, acredita.“Nós temos que aprender com a morte de Tim que a informação é um bem precioso e a liberdade de exercê-la é patrimônio da sociedade”, completa.
Aziz Filho, presidente do Sindicado dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ), diz que a morte de Tim Lopes trouxe para os profissionais a certeza do perigo.“Nós pensávamos que tínhamos carta branca, mas a morte de Tim nos tirou essa sensação ilusória”. E complementa que nesses cinco anos houve algumas mudanças, por exemplo, os jornalistas tiveram acesso a equipamentos de segurança, como carros blindados e colete à prova de bala. Mas para Aziz, a principal mudança foi a discussão do direito de recusa dos jornalistas.No sindicato, há dois anos, é oferecido um curso que treina jornalistas. Já participaram 50 profissionais. “Não é um treinamento para a guerra. No curso, o jornalista aprende, por exem-plo, a prestar os primeiros socorros e ter rapidez de raciocínio em situação de risco.
Para Fernando Molica, jornalista, escritor, diretor da ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Inves-tigativo) e repórter especial da TV Globo, “os jornalistas pas-saram a ser mais cuidadosos. Muitos de nós pensávamos que esse tipo de coisa nunca iria acontecer,” analisa. A ABRAJI foi criada após a morte de Tim Lopes. É uma as-sociação que luta pelo direito à informação.Há discordância entre os jornalistas quando o assunto é a ida dos profissionais às comunidades. Celso Schröder diz que a comunidade não é o único lugar com violência, “o risco é inerente em qualquer lugar”, acredita.Fábio Fachel, repórter da TV Globo, diz que quando o repórter não vai à comunidade, a informação vai até ele. Para Fernando Molica, muitos jornalistas deixaram de subir aos morros, não porque a população de lá não mereça estar na mídia, mas por medo.
Para onde vai o jornalismo investigativo?
O que o impeachment do ex-presidente Fernando Collor e o caso valerio-duto têm em comum? A resposta é simples: o Jornalismo Investigativo.O seminário Novos Caminhos do Jornalismo Investigativo, promovido pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), no mês de maio, teve como objetivo analisar o rumo do Jornalismo Investigativo. Segundo Molica, diretor da ABRAJI (mediador da primeira mesa), a proposta foi apresentar um resumo de pontos específicos, fundamentais para os jornalistas.Em “O jornalismo de precisão e o uso das técnicas de apuração com o auxilio de computadores”,Tony Queiroga, mestre em Comunicação e Tecnologia de Imagem e professor da Universidade Veiga de Almeida, falou sobre o jornalismo de precisão. Esse termo foi usado pela primeira vez nos Estados Unidos, por Philip Meyer, jornalista, que uniu a ciências sociais ao jornalismo. Hoje, para pôr em prática a teoria do jornalismo de precisão, utiliza-se o CAR (Computer Assisted Reporting,) ou repórter assistido pelo compu-tador. O professor deixa claro que o objetivo do jornalismo de precisão não é transformar a reportagem em números, mas ser uma ferramenta para se ter uma matéria mais precisa.
Angelina Nunes, editora-assistente da Editoria Rio, do jornal O Globo, complementou. Citou como exemplo, a matéria “Os homens de bens da Alerj”, que fez um levantamento dos bens de 73 políticos durante os anos de 1996 a 2001 e ganhou vários prêmios, um deles o Esso.A segunda mesa abordou “A investigação em governos e na polícia - as dificuldades para acesso aos dados”. João Antônio Barros, chefe de reportagem do jornal O Dia, falou que só se consegue informações na base da amizade.Comentou também sobre o uso da câmera escondida. Para ele, é válida quando é usada para fazer uma denúncia.Na terceira mesa, sobre “Os limites legais para a investigação jornalística, os processos contra jornais e repórteres”, foi discutido os aspectos legais. Artur Gueiros, Procurador da República e Marc Ferro, advogado cível, recomendaram cuidados na hora de publicar uma matéria. “Nunca atribua o crime a alguém, apenas narre o fato. ensina o advogado.Também participaram do a pesquisadora do Centro de Pesquisas e Documentação de História Contemporânea da Fundação Getúlio Vargas, Alzira de Abreu e o ombudsman da Folha de São Paulo, Mário Magalhães.
Números que assustam
O relatório Fenaj 2006-Violência e a Liberdade de imprensa no Brasil, realizado pela Comissão dos Direitos Humanos da Federação Nacional dos Jornalistas, mostra que a violência contra os profissionais não deu trégua. Para a elaboração do relatório, foram examinadas denúncias e informações recebidas pelo sindicatos dos jornalistas, pela Fenaj e também notícias veiculadas nos meios de comunicação. Foram coletadas informações sobre 68 casos de violência e cerceamento à liberdade de imprensa vividos por profissionais da área em diversos estados de todas as regiões brasileiras. O estudo mostra que a maior parte da violência acontece na Região Sudeste; é física e os principais alvos são homens. Mostra também que os profissionais de veículo impresso sofrem mais cer-ceamento de liberdade: 66% em 50 casos. Os temas políticos ou relacionados à administração pública con-tinuam sendo maioria: 35% contra 37% em 2005.
Exemplo de dedicação e profissionalismo
No dia 2 de junho, foi inaugurada a Avenida Tim Lopes, na Barra da Tijuca, que liga a Luiz Carlos Prestes à Avenida das Américas. A soleni-dade foi uma iniciativa do SJPMRJ e dos familiares do jornalista. Estavam presentes a irmã do repórter, Tânia Lopes, Agata Messina, da Secretaria de Co-municação Social da Prefeitura do Rio de Janeiro, Rubem César, do Viva Rio, além de amigos do jornalista.Tânia Lopes disse que a homenagem é uma lembrança da luta de Tim. A irmã do jornalista ofereceu a homenagem às famílias vítimas da violência. “Essa homenagem também é para as famílias que têm que conviver com a violência em suas comunida-des.Também com apoio da Fenaj, Abraji e do SJPMRJ, foram espalhados dez outdoors pelas ruas do Rio, com a frase “2 de junho: Cinco anos sem Tim Lopes. O Brasil exige paz”. Colega de trabalho de Tim Lopes, Fábio Fachel, repórter da TV Globo,lembra-se com carinho do amigo.“Tim Lopes era muito espontâneo e gostava de fazer coisas diferentes e com isso ele se destacava” lembra.
Tim Lopes, de 51 anos, depois de passar pelos jornais O Globo, O Dia e Jornal do Brasil, entrou para TV Globo como produtor do Fantástico e depois foi para a Editoria Rio. Produziu reportagens inves-tigativas como a “Feira das Drogas” que conquistou o primeiro Prêmio Esso de Telejornalismo de 2001.